Reflexões no pós-treino
Gosto de me sentar em qualquer banco que não esteja ocupado antes de ir embora do ginásio. Tiro calmamente os alto-falantes do mp3, as faixas, straps ou qualquer outro acessório que tenha levado. Não é mais necessário. Mesmo porque, nesse momento, não escuto mais nada. O ataque sonoro que me fez treinar de forma árdua dá lugar a pensamentos e reflexões pós-treino.
Sentado, posso ver meu par de tênis, não me lembro aonde os comprei ... mas sei que não paguei caro, porque senão comprometeria a dieta do mês. Vejo algumas partes descoladas, talvez seja a hora de passar alguma fita ali. Comprar outro? Não ... ainda não ...
Vejo também algumas veias, mesmo que tímidas, no tibial esquerdo ... uma baita evolução pra quem nunca teve vascularização aparente. O alto relevo me dá orgulho de mim mesmo. Passo a ponta dos dedos só pra confirmar ...
Coloco as palmas da mão pra cima e vejo vários calos. Anos e anos puxando um ferro. Alguns já estouraram várias vezes. O calo perto do anel de casado é o que dói mais. Sem analogias ...
Ao virar as mãos, quase que inconsciente, percebo alguns pêlos brancos próximos ao pulso esquerdo. É ... foram mais anos e anos do que percebi ... Talvez tenha passado mais tempo no ginásio do que em qualquer outra atividade social. Talvez ...
Uma olhada rápida nos bíceps, tríceps, antebraços ... não sei se posso dizer se aparento com alguém que esteve tanto tempo no ginásio. E não me importo com isso. Quantas vezes me perguntaram se "ainda estou treinando"? Talvez pela surpresa de aparentar tanto tempo ou, simplesmente, por não parecer mais que treino ... nunca soube o porquê da pergunta.
Acredito que já tenha vivido mais que a metade de minha vida. E também acredito que treinei metade do que queria. Tantas coisas a fazer, algumas vezes o tempo era curto, outras ocioso. Mas eu sempre treinei. Faz mais de vinte anos que treino. É até mais tempo de vida que de muitos que estão lendo isso agora. E foi mesmo ... uma vida. A minha vida. A vida que eu escolhi seguir todo santo dia, com ou sem chuva. Com frio, sem dinheiro ou sem um par de tênis decente pra andar.
O importante era estar no ginásio. E foram muitos ginásios pelos quais passei. Alguns simples, outros mais rebuscados. Alguns ginásios me acolheram, outros me fizeram ter vontade de que a mensalidade acabasse logo. Mas eu sempre estava lá ...
E estarei amanhã ... e depois de amanhã ... e depois disso também ... e aonde quer que eu esteja, estará o ferro ... e estará também o meu coração ...
Stay strong !
Betão
Melhor lugar pra se estar ainda que não seja confortável.
ResponderExcluirOs cabelos brancos,as rugas na testa e olhos já apareceram,nosso corpo já não responde tão rápido quanto à Vinte anos atrás,mas estamos aqui e sempre estaremos.....Em busca de estar melhor do que ontem.
ResponderExcluirStay strong !
Me vi nesse texto.
Fooda 👌
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