O PROBLEMA DOS ABDOMINAIS
Fazer séries
intermináveis de abdominais ainda é mencionado, de forma totalmente incorreta,
ao processo de emagrecimento. Quantas e quantas vezes você não ouviu por aí
“Faço quase 1000 abdominais por dia”, como se o número 1000 representasse algo
realmente relevante. Se fosse assim, 2000 abdominais seriam melhor e 3000
melhor ainda.
Emagrecer ou o processo
de emagrecimento é influenciado por diversos fatores, quase que incontáveis, eu
diria. Mas posso destacar alguns de imediato: gasto calórico (atividade física,
proporção de massa muscular, alimentação, etc) e por outros fatores, como por
exemplo, normalidade do sistema hormonal, hereditariedade, número de células
adiposas, etc.
Outros fatores que
merecem uma atenção especial por serem os principais meios de se fazer a
musculatura abdominal visível e com grau de definição são: o nível de hipertrofia abdominal e a quantidade de gordura nessa região. Entenda-se como quantidade
gordura abdominal que é armazenada entre os músculos abdominais e a pele. Todos
nós temos músculos abdominais ainda que não pareça. O problema é que a maioria
está encoberta por uma capa de gordura.
Vamos, então, agora,
dissertar sobre esses dois aspectos, começando pelo nível de hipertrofia.
O primeiro passo, assim
como qualquer outro músculo, é hipertrofiar a musculatura abdominal com
exercícios isotônicos, preferencialmente, de alta intensidade. Você deve
exercer uma quantidade de trabalho específica, realizando algo em torno de 3-4
séries com 8-12 repetições por exercício, ou seja, um trabalho de força
muscular. Esse é o início do processo e não chegar na academia pela primeira
vez na vida, fazer todos os grupos musculares como descrito acima e na hora de
se treinar abdominais, o professor, equivocamente, lhe mandar fazer 4 séries de
50. Isso é besteira e falta de informação dele.
Esse trabalho que deve
ser feito logo no início aumenta a área de secção transversal da musculatura
abdominal (mais conhecida como hipertrofia), facilitando a visualização dos
músculos mesmo quando não estiverem contraídos.
Somado a esse fator, o
aumento da massa muscular magra aumenta o metabolismo basal, contribuindo pra
um maior gasto calórico total, mesmo em repouso. Como consequência desse maior
gasto calórico, há um favorecimento da maior utilização de gorduras como fonte
de energia, já que a predominância, nessa situação, é da do metabolismo
energético aeróbio, que utiliza cerca de 80%, ou mais segundo alguns
especialistas, de gordura como fonte de energia no repouso.
“Mas porque o professor
me passou 5 séries de 100 repetições, então?”. Entenda que séries como esta,
totalizando 500 repetições, caracteriza um trabalho de resistência muscular
porque são feitas com baixa intensidade (eu diria que até uma média
intensidade) e não favorece a hipertrofia muscular do mesmo jeito que um
trabalho de força. O que vale pra se hipertrofiar qualquer região muscular é a
qualidade e a intensidade da contração muscular e não a quantidade de
exercícios ou repetições realizadas. Isso vale pra região abdominal e para
todos os outros grupos musculares. Sempre!
Além do nível de
hipertrofia, explanado acima, a quantidade
de gordura armazenada é outro meio de se fazer aparecer os “gomos” do seu
abdominal, ainda que não exista uma porcentagem ideal de gordura para que isso
aconteça, já que existem muitas variáveis nesse quesito.
Exemplos dessas
variáveis podem ser citadas a seguir: cor da pele, localização da gordura
armazenada, postura e a proporção dos tipos de fibras nos músculos.
A cor da pele pode
influenciar, e muito, no grau de definição. Se fosse diferente, porque tantos
atletas usariam bronzeadores artificiais nos campeonatos? Escurecer um pouco a
pele favorece a visualização dos músculos!
A localização da
gordura armazenada é outro fator que irá interferir no grau de definição da
região abdominal. Duas pessoas podem ter exatamente a mesma porcentagem de
gordura armazenada, mas, pra azar de uma delas, o maior acúmulo pode estar na
região abdominal, dando-lhe o aspecto de abdômen fraco e flácido.
Alguns desvios
posturais afetam de maneira negativa a visualização da musculatura abdominal
porque são consequência de desequilíbrios musculares, que por sua vez, afetam a
postura de várias articulações, podendo ser, inclusive, a coluna vertebral. Vamos
pegar, como exemplo, um indivíduo hiperlordótico, que possui a musculatura
abdominal com um grau elevado de elasticidade se comparada aos extensores da
coluna(a musculatura oposta, antagônica). Essa posição alongada na região
abdominal dificulta a visualização do ventre muscular abdominal.
OBS: Lembrando que hiperlordose, segundo Tribastone
(2001), é uma curvatura com concavidade posterior, anormal pela sua
intensidade, podendo ter como causas a malformação óssea, posturas incorretas,
falta de exercício físico, desgaste do tecido, mecanismo de compensação,
rigidez e contratilidade, tais fatores levam a conseqüências biomecânicas como:
insuficiência dos músculos extensores do tronco por paralisia dos espinhais
lombares, insuficiência dos músculos flexores, particularmente do reto
abdominal, insuficiência dos músculos do glúteo; retração do íliopsoas e peso
das vísceras.
Os exercícios de força,
na musculação tem um importante papel no processo de perda de peso, assim como
os exercícios aeróbicos, pois esses últimos mobilizam a gordura como fonte de
energia durante o exercício, além de alterar o condicionamento cardiovascular
de forma positiva, estimulam o aumento das enzimas oxidativas e o tamanho e o
número das mitocôndrias.
A musculação, por sua
vez, mobilizam carboidratos, mantêm o metabolismo de repouso elevado por um
período de tempo mais longo, aumentam a massa corporal magra mantendo o metabolismo
basal elevado 24 horas por dia, representam um gasto energético que contribui
para o balanço calórico negativo (déficit), estimulam hormônios responsáveis
por esse gasto energético (GH, por exemplo) e não utilizam a gordura como fonte
de energia no momento do exercício.
Quando juntamos os dois
tipos de exercícios, aeróbio e anaeróbio, com relação ao metabolismo das
gorduras, um acaba cobrindo a deficiência do outro., favorecendo de forma
decisiva o processo de perda de peso.
O déficit calórico, ou
balanço calórico negativo ou, ainda, ingestão calórica menor que o gasto, é
fundamental no programa de emagrecimento. Como a via energética aeróbia
predomina durante o repouso, por dedução óbvia, podemos entender que um
indivíduo com maior hipertrofia muscular, via musculação, e adaptações
bioquímicas musculares e sistêmicas, via aerobiose, utiliza muito mais gordura
como fonte de energia (em repouso e durante o exercício) do que um indivíduo
obeso que faça uso apenas de dieta para emagrecer. A chave do sucesso é aliar,
então, musculação, exercício aeróbio e dieta!
Esqueça, então, aquele
papo do professor de fazer séries intermináveis de abdominais, como 5 séries de
100 repetições. Mas não confunda com “elevar a intensidade do treino” para essa
região. Depois que você construiu uma base sólida, um abdômen hipertrofiado,
etc, você pode, e deve, elevar sua intensidade de treino. Mas dentro da mesma
metodologia, que é o treino de força, e não aumentar as repetições de forma
desordenada.
Um exemplo: Você está
treinando abdominal no solo, fazendo 4x12 com uma anilha de 10kg. Uma maneira
de intensificar o treino é aumentar a carga, mudando a anilha para uma de 15 ou
20kg. Afinal, estamos falando de hipertrofia, certo?
Chegou em 20kg, 4
séries para 12 repetições? Você pode agora utilizar-se de bi-sets, que são
exercícios feitos em seguidas sem descanso. Continue com sua anilha de 20kg no
solo, 12 repetições e ao terminar, passe para uma abdominal no aparelho, com
carga ou na polia alta, com uma corda. Lembre-se sempre: na primeira fase do
desenvolvimento dos abdominais, você HIPERTROFIA e não define. Essa é a lei
natural e, talvez, menos óbvia pra alguns.
Utilize bi-sets, como
no exemplo acima, drop-sets e até circuitos, mas com poucas repetições e cargas
moderadas ou altas. O músculo abdominal, mais uma vez, deve ser treinado como
qualquer outro músculo, sempre com treinos de força, com cargas altas, baixas
repetições e poucas séries. Somente depois que você hipertrofiar essa região é
que deverá enfatizar outra estratégia, sempre aliada à dieta, para que todos
possam visualizar o excelente trabalho que você fez, de forma pensada,
consistente e efetiva.
Hoje mesmo, tente
treinar como da forma explicada acima e veja os resultados em si mesmo!
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