Recomendações de exercício físico por trimestre gestacional
Primeiro trimestre
A gestante somente deve iniciar ou retomar a sua própria rotina
de exercícios habituais após a primeira consulta de pré-natal, estabelecida a
ausência de risco gestacional e após liberação médica. A atividade física de
intensidade leve a moderada é recomendada a todas as grávidas, mesmo as
sedentárias que desejam iniciá-la durante a gestação, sendo nesse caso a
recomendação atual iniciá-la após a 12ª semana
de gestação.
As gestantes fisicamente ativas antes de engravidar podem manter
suas atividades inclusive no primeiro trimestre gestacional, porém modificando
(ou adaptando) sua intensidade e frequência.
Contudo, o primeiro trimestre pode ser uma fase delicada para a
prática de exercício, pois as alterações hormonais determinam com relativa
frequência mal-estar, como náuseas e vômitos, além de sonolência e indisposição,
o que pode dificultar a aderência e a disposição para os exercícios.
Os exercícios aeróbicos são recomendados para as mulheres que os
praticavam antes da gestação, porém com menor intensidade, frequência e
duração, de acordo com o discutido anteriormente. Os alongamentos podem ser
realizados, sem contraindicações. Já os exercícios para o fortalecimento muscular
são recomendados, desde que de forma supervisionada. Recomenda-se preferir
sempre exercícios envolvendo grandes grupos musculares, com pouca carga e maior
número de repetições, bem como evitar manobra de Valsava durante o treino de
resistência muscular. Todas as gestantes devem ser orientadas a realizar
diariamente o treinamento dos músculos do assoalho pélvico com contrações
sustentadas e rápidas dos músculos do assoalho pélvico (MAP) desde o primeiro
trimestre. Também não há contraindicação para as mobilizações articulares e
relaxamento.
Segundo trimestre
Em geral, é o melhor período para a prática de exercícios, pois a
mulher se encontra mais disposta, livre, em geral, dos inconvenientes do início
da gravidez. Mulheres que não praticavam exercício antes da gestação podem
iniciar sua prática a partir do segundo trimestre. A partir de 20ª semanas, com
o crescimento acelerado do volume uterino, deve-se ter cuidado com a realização
de exercícios em posição supina por tempo prolongado, a fim de evitar a
síndrome da hipotensão supina. Os exercícios aeróbicos continuam recomendados
para todas as gestantes, mesmo as que eram sedentárias antes da gestação,
desde que sigam as instruções de tipos, intensidade e frequência do exercício
escolhido.
Quanto ao alongamento, embora recomendado para esse período, deve
levar em conta alguns cuidados a partir da décima semana de gestação, quando
ocorre o pico do hormônio relaxina circulante, levando à maior flexibilidade
dos tecidos articulares e ligamentares; logo, alongamentos extensos e extremos
podem aumentar o risco de lesões dessas estruturas. Exercícios para o
fortalecimento muscular, exercícios perineais e mobilizações articulares e
relaxamento seguem as mesmas recomendações do primeiro trimestre.
Terceiro trimestre
A gestante
naturalmente tende a diminuir a intensidade dos exercícios em função do aumento
de peso corporal e outros desconfortos e limitações. No entanto, a prática de
exercícios leves deve continuar a ser estimulada. Nesse período, atividades
aeróbicas na água, como natação e hidroginástica, e caminhadas são indicadas
para manter a capacidade aeróbica e o condicionamento físico, assim como os
exercícios de respiração, mobilizações e relaxamento envolvidos na preparação
para o parto. Algumas adaptações ao exercício podem ser necessárias nesse
período, por exemplo, pedalar em bicicleta ergométrica horizontal pode ser mais
confortável para a gestante do que em bicicleta ergométrica vertical
tradicional.
O TMAP deve continuar durante o terceiro trimestre, não havendo
contraindicação para a sua prática. Para as mulheres que realizaram treino do
MAP durante a gestação, o terceiro trimestre é o momento ideal para
conscientização sobre o relaxamento dos MAP e o aumento da sua flexibilidade.
No entanto, enquanto a efetividade do fortalecimento dos MAP durante a gestação
está bem estabelecida na literatura para a prevenção de sintomas urinários, a
utilização de técnicas como massagem perineal ainda necessita de mais estudos
para esclarecer seu efeito protetor sobre o assoalho pélvico durante e após o
parto.
Não existe claramente descrita na literatura consultada uma idade
gestacional limite para a interrupção da prática de exercícios, sendo muito
variável entre as grávidas. Nesse período, as mulheres devem ficar atentas e
ser muito bem orientadas sobre sinais e sintomas que indiquem a proximidade e o
início do trabalho de parto, e os sinais de alerta para interromper a prática.
Considerações finais
O investimento global na saúde materna durante o período
gestacional é reconhecidamente de enorme valor, não somente para a saúde da
gestante e seu concepto naquele momento mas também para seu patrimônio de saúde
em longo prazo, considerando que complicações ocorridas na gestação podem levar
a morbidades futuras, de variada natureza, como hipertensão arterial crônica,
diabetes e obesidade10. Nesse contexto, a prática de exercício físico é uma das
formas mais produtivas de se incrementar a saúde materna, ajudar no controle de
vários desconfortos durante a gestação e no parto, bem como no controle do
ganho de peso mês a mês, e facilitar seu retorno às condições ponderais do
pós-parto, propiciando um período puerperal e de amamentação mais confortável e
prazeroso.
Sabe-se que na gestação a aderência ao exercício pode ser mais
difícil, pois há entre as mulheres, seus médicos e cuidadores receios e dúvidas
quanto à segurança da sua prática, necessitando de esclarecimentos objetivos e
incentivos permanentes.
Há urgente necessidade de sensibilizar os gestores e profissionais
da saúde para que programas adequados de atividade física durante a gestação
sejam disponibilizados para todas as mulheres, seja em Unidades Básicas de
Saúde ou em serviços privados, e incorporados definitivamente às práticas
antenatais.
Vale ressaltar a importância da constituição e participação de
equipe com formação multidisciplinar, incluindo Enfermagem, Fisioterapia ou
Educação Física, Nutrição, Psicologia e Serviço Social, que permita uma
abordagem global da saúde da mulher nesse período especial de sua vida
reprodutiva.
Percebe-se
que o exercício físico é uma prática que agrega benefícios para a saúde da
mulher no ciclo gravídico-puerperal, devendo ser conhecida e estimulada
pelos profissionais da saúde. Um ponto importante, que ajuda na justificativa
da elaboração deste trabalho, é a ausência de orientações padronizadas sobre
exercício para as gestantes brasileiras, que na maioria das vezes se utilizam
de pesquisas com as orientações adotadas em manuais internacionais.
A adaptação
dessas recomendações à realidade brasileira se faz necessária e facilitaria a
disseminação da informação entre nossos profissionais e entre nossas gestantes.
A gravidez
é um período ideal para a intervenção de profissionais da saúde, por estarem as
gestantes muito próximas desses profissionais e altamente motivadas, realizando
com decisão exames de rotina, fazendo retornos frequentes e tendo oportunidade
de receber com interesse e atenção uma série de novas orientações para sua
saúde e bem-estar. A conscientização dos benefícios de se adotar um estilo de
vida mais saudável durante e após a gestação deve fazer parte sistemática dos
procedimentos assistenciais bem conduzidos e de qualidade.
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