Afinal, a dor muscular tardia é necessária ?
Depois
de tantos anos na maromba, ainda me perguntam se é realmente válido ficar dolorido
depois do treino e se não sentir a dor muscular tardia significa que o treino
não foi eficiente. Quando devemos senti-la ? É correto tê-la ? Porque, algumas
vezes, não a tenho ? Vejamos ...
A
primeira sensação de dor muscular que estamos citando, na verdade, pode ocorrer
durante (sim, pimpolho, isso mesmo que você leu, durante) o treino. Ela é
provocada pelo acúmulo de metabólitos na musculatura. Metabólitos são “restos”
produzidos pelas células e pelos órgãos. As células produzem energia a partir
de glicose, o que não serve, ela coloca pra fora e isso cai na corrente
sanguinea e é eliminado. Também o suor, as fezes e a urina são considerados
metabólitos.
Imediatamente
após ou durante o treino, esses metabólitos são decorrentes do trabalho
muscular intenso, entre esses metabólitos está o lactato (ácido lático), que é
um subproduto da segunda via metabólica de geração de energia (glicólise), que
é a via principal durante os treinos de musculação.
O
acúmulo dessa substância na musculatura leva a uma diminuição do pH intramuscular
(acidez), que, para nós, se traduz em uma sensação de queimação e dor.
Já
a dor que é sentida após horas ou dias depois do treino com pesos (aquela que
tem início não antes de oito horas após o treinamento e aumenta sua intensidade
entre 24 e 72 horas) é chamada de dor
muscular tardia (DMT) ou dor muscular de início tardio (DMIT).
A
DMT é caracterizada pela sensação de desconforto e dor na musculatura
esquelética, que ocorre algumas horas após a prática de uma atividade física à
qual não estamos acostumados, especialmente se essa atividade enfatiza ações
musculares excêntricas (movimento de desaceleração).
Essas
sensações desconfortáveis vêm acompanhadas de diminuição da força muscular, por
isso, o pimpolho que estiver com DMT deve ficar atento. Uma alternativa é
treinar mais leve sempre que ela ocorrer, aumentando as repetições e/ou
diminuindo o tempo de descanso. Alguns especialistas aconselham não repetir a
sessão de treinamento para o mesmo grupo muscular até que a dor desapareça. Eu
não ...
As
causas da DMT ainda não são totalmente esclarecidas, mesmo o homem pisando na
Lua, clonando ovelhas e reinventando mitos. Por muito tempo, acreditou-se que
essa manifestação da dor estava associada ao acúmulo de lactato no músculo. No
entanto, por mais alta que seja a concentração de lactato no período
imediatamente após o exercício, evidências demonstram que o lactato retorna aos
níveis de repouso em um período de 2 a 4 horas após a atividade (Agostinho
Filho et al.,2006), fato que desmente a hipótese de o lactato ser o
causador da DMT.
A
hipótese mais aceita atualmente afirma que a DMT é conseqüência de um processo
inflamatório que se instala por conta das micro-lesões proporcionadas pelo
treinamento, principalmente se este enfatizar as ações musculares excêntricas
(Foschini, Prestes e Charro, 2007;Powers e Howley,2005).
A
origem da DMT pode ser entendida pela seguinte sequência :
1..)
Exercício extenuante
2..)
Micro-lesões estruturais nas células musculares
3..)
Extravasamento de cálcio do retículo sarcoplasmático
4..)
Ativação de enzimas (proteases) responsáveis pela degradação de proteínas
celulares
5..)
Resposta inflamatória
6..)
Edema e dor
Apesar
de parecer uma manifestação normal diante do exercício intenso, indivíduos
marombeiros de carteirinha se tornam menos suscetíveis ao aparecimento da DMT.
Isso de deve à adaptação ocorrida no organismo em conseqüência aos estímulos a
ele oferecidos.
Mas
porque a DMT não ocorre sempre ????
Segundo
alguns autores, há 3 hipóteses que explicam isso
Teoria
neural
Propõe
uma alteração no padrão de recrutamento de unidades motoras e um maior número
de fibras musculares é recrutado, o que sobrecarrega menos cada fibra muscular
Teoria
do tecido conjuntivo
Propõe
um aumento no tecido conjuntivo do músculo, oferecendo proteção durante o
estresse do exercício
Teoria
celular
Propõe
a síntese de novas proteínas intracelulares que melhoram a integridade da fibra
muscular.
Como
o pimpolho que está lendo pode perceber, as duas últimas teorias relacionam-se
diretamente com a hipertrofia muscular. Sendo assim, o estímulo proporcionado
pelo exercício gera dor e o organismo responde com a hipertrofia muscular (YESS
!!!!!) com o intuito de minimizar os possíveis efeitos “lesivos” da próxima sessão
de treinamento.
Com
base nessas informações, é possível concluir que a DMT é necessária para
desencadear o fenômeno da hipertrofia muscular. No entanto, parece improvável
que os danos e as dores musculares sejam essenciais para a adaptação.
Ainda
assim, a presença da DMT, mesmo não sendo freqüente, parece ser o indicador de
que o princípio da variabilidade de estímulos (mais conhecido como “troca minha
série, fessô”) está sendo aplicado, evitando, assim, o aparecimento de “platôs”,
também conhecido como “vou mudar de academia porque aqui já deu”.
Então,
pimpolhos, o dodói anabólico é benvindo ...
Stay
strong !
Betão
Muito BOM tio betão! Já havia lido antes, mas depois algumas pessoas vieram me falando que a "professora de anatomia básica" da UNIVERSIDADE tinha dito que não era necessário sentir essa dor para gerar hipertrofia, que isso era um mito e etc, astuto que sou, discordei e quando cheguei em casa a primeira coisa foi procurar no blogdotitiobetao e depois busquei as bases científicas (textos mais difíceis, comparado a essa síntese mastigada e gratuita) e mandei para essas alunas! Grande abraço betão, profissional que realmente busca ser um professor exemplar!!!
ResponderExcluirObrigado, meu amigo !
ResponderExcluirExcelente artigo tio …
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