STRONGMAN - PASSO A PASSO - ARSENAL PARTE 1


Você tem idéia de como o pessoal do STRONGMAN consegue tanta força ? Como alguém consegue forças pra puxar um ônibus com as pernas ? E aquelas provas onde os indivíduos têm que jogar barris sobre os ombros ? Posso treinar como a sugestão de treino do Mariusz e conseguir esses resultados ? Só o treino irá me tornar um campeão ? E a genética desses caras ? O que eles comem ?



Calma, calma, amigos ... vamos por partes. Genética, treino, alimentação, descanso são essenciais e sem eles você não vai chegar a lugar algum. Mas será que falta alguma coisa ? Aquele “algo mais” que irá dar aquele empurrãozinho nos treinos ?

Não preciso citar que mesmo em condições “angelicais”, isto é, se você dormir 8 a 10 horas por dia, realizar todas as refeições balanceadas com os macro-nutrientes (carboidratos, proteínas e gorduras), treinar de forma correta, com intensidade (independente do protocolo de treinamento escolhido, que pode ser HIT, GVT, Heavy Duty, etc), e suplementar de maneira decente, se não tiver tempo hábil de preparar seu rango (pelo menos um whey, glutamina, creatina e BCAA), vai olhar para o lado e perceber que, apesar de toda essa dedicação, o cara que está treinando bem ao seu lado, fazendo rosca direta como se fosse um pêndulo, roubando em todas as repetições e mais parecendo que está tendo algum tipo de convulsão, é maior que você.

Mas porque isso ? Bom, pode ser por genética mesmo, tempo de treino, suplementos ou alimentação. Pode ser porque ele já teve coragem de nunca mais ouvir o professor descolado da academia que disse pra ele que dá pra trincar a barriga com abdominais ou porque ele já abandonou a série ABCDE há tempos.

Enfim, pode ser por “n” motivos. Mas também pode ser porque esse seu colega está usando algum tipo de droga sintética hormonal que está dando esse “up” na musculatura. E não sejamos hipócritas : jogadores de futebol usam, tenistas, lutadores, freqüentadores de academia de fim-de-semana usam, até seu amigo que não sabe nada de musculação e que você já insistiu pra ele dar uma olhadinha no blog do Betão, usa.

Se esse povo usa, imagine um cara que vai competir em uma categoria pesada do fisiculturismo ou um powerlifter que quer quebrar o recorde mundial de Levantamento Terra. E se o seu objetivo for levantar uma pedra de formato redondo de 160kg ou carregar duas geladeiras nos ombros ? Claro que competidores do World´s Strongest Man usam esteróides anabolizantes. Claro que tomam estimulantes a base de efedrina. Óbvio que atletas naturais não teriam a menor chance contra esses mamutes gigantescos estimulados por hormônios e anfetaminas. E é sobre isso que iremos falar agora : o arsenal ergogênico utilizado por atletas de STRONGMAN.

Não vou ficar divagando sobre o que são esteróides ou anfetaminas pois já existe material de sobra na internet e você já está cansado de saber. Vamos apenas dar uma repassada rápida na teoria e mostrar o que é usado e o porquê da utilização.

Em poucas palavras, esteróides anabolizantes são drogas sintéticas utilizadas na substituição do hormônio masculino, testosterona, que é fabricado pelos testículos. Esses hormônios ajudam no crescimento muscular (efeito anabólico) e no desenvolvimento das características sexuais masculinas, como pêlos, engrossamento da voz, etc (esse é o efeito androgênico).

Existe uma outra classe de drogas utilizadas, que são as anfetaminas, drogas estimulantes da atividade do sistema nervoso central (SNC). O usuário de anfetaminas é capaz de executar uma atividade qualquer por mais tempo, sentindo menos cansaço, além de sentir um estado de alerta extra e de euforia.

O uso dessas substâncias em alguma competição constitui o que chamamos de doping. A palavra doping tem origem no termo “doop”, que significa sumo viscoso obtido do ópio. É utilizado desde a Grécia antiga, onde se esperava que  o usuário dessa pasta se sentisse mais forte e menos cansado para as tarefas diárias no exército. Para nós, o doping é o uso de qualquer substância proibida pela regulamentação desportiva, tendo por finalidade melhorar o desempenho físico e/ou mental, por meios artificiais. O doping, no esporte, tem como objetivo potencializar o rendimento do atleta e, falando de modo bastante realista, recordes só são quebrados através de algum tipo de doping.

Pode esquecer se você acha que algum recorde será quebrado por um indivíduo livre de drogas. E para você que acha que esporte é saúde ... esporte competitivo não tem nada a ver com saúde. Tem a ver com dinheiro, drogas ilícitas como esteróides e anfetaminas, patrocínio, etc. Um atleta não será mais patrocinado se seus rendimentos caírem ou se aparecer alguém melhor ou maior. A atenção fica sempre voltada para aquele que é maior, mais rápido ou mais forte. E, na maioria das vezes, isto significa se entupir de todos os tipos de drogas possíveis e imagináveis.

No culturismo, há uma tendência de se reduzir o uso prolongado de esteróides, com ciclos mais curtos, menos drogas. Mas o problema no WSM é que não é somente atrás de massa muscular que os atletas estão. Também querem potência, resistência, força, ânimo, enfim, são muitos outros fatores envolvidos e o uso/abuso acaba sendo quase que natural.



As drogas

Gabormon (Metiltestosterona)
Utilizado, principalmente, pelo pessoal da Old School, a metiltestosterona é um esteróide oral de curtíssimo período ativo no organismo, chegando a cessar seus efeitos em menos de uma hora, pois o fígado (sempre ele) neutraliza grande parte de seu princípio ativo. O ácido gama-eminobutírico foi acrescentado à formula desse esteróide, pois é um mediador químico que age na transmissão do influxo nervoso nas sinapses (sinapses nervosas são os pontos onde as extremidades de neurônios vizinhos se encontram e o estímulo passa de um neurônio para o seguinte por meio de mediadores químicos, os neurotransmissores., ou seja, é um transmissor da informação). Utilizado para aumentar a agressividade, era vendido em frascos com 20 comprimidos (10mg de metiltestosterona e 5mg de acido gama-eminobutírico) mas sua produção foi descontinuada no Brasil há anos. O medicamento era colocado embaixo da língua até se dissolver por completo. Os atletas geralmente faziam uso de 1 a 2 comprimidos antes do treinamento e alguns até arriscavam a prática antes das competições.
Uso do medicamento na medicina: insuficiência testicular e climatério masculino (período de privação, ou de deficiência de hormônio androgênico, testosterona). Uso no esporte : aumentar a competitividade e a agressividade.

Nota 1 : Na época em que eu participava de campeonatos de supino em Guarulhos e São Paulo, cheguei a utilizar o medicamento algumas vezes mas o efeito que eu esperava não aconteceu. Não fiquei mais agressivo, nem senti que minha força se alterou de alguma forma. Competitivo, então ? Bom, se você está em um campeonato é porque você é competitivo, senão estaria na arquibancada assistindo e não colocando suas deficiências à prova. Cheguei a tomar 3 comprimidos e lembro-me apenas de ter ficado com a boca seca e muita sede. Meu instrutor-professor-guru gostava de dizer que eu não tinha os receptores específicos para determinada droga quando essa não fazia efeito algum e eu acreditava piamente que o problema era sempre comigo. Nunca imaginei, naquela época, que poderia estar comprando algo falso ou tomando uma dosagem inferior àquela que faria efeito em mim.

Balistic (efedrina)
É uma anfetamina. Nos anos 90 existia um suplemento (isto mesmo, suplemento) cujo princípio ativo era a efedrina (ahhh ... os saudosos anos 90, onde se comprava tudo sem receita, sem burocracia e o A.D.E. era só uma combinação de vitaminas dada para cachorros e passarinhos. Bom, alguns passarinhos ainda usam atualmente, querendo cantar de galo). Basistas, powerlifters, o pessoal do culturismo que queria um estímulo extra, todos, nós (ops ! ... digo ... eles) utilizavam o Balistic, que era tomado de acordo com o peso corporal. Um tempo depois foi substituído pelo Xenadrine. Muito usado pelos competidores de força horas antes de uma prova ou do treinamento árduo. Era um suplemento para quem queria emagrecer mas como a efedrina era um de seus componentes, atletas de todas as modalidades logo começaram a utilizá-lo, como forma de estímulo do SNC (Sistema Nervoso Central) e, portanto, sentiram-se menos cansados em atividades esportivas.
A efedrina é muito utilizada pelos atletas de STRONGMAN, geralmente orientados por médicos.

Nota 2 : O balistic foi algo que adorei tomar. Três comprimidos e lá estava eu pronto para comer a barra de supino. Vale ressaltar que isso já faz mais de 15 anos, eu era atleta júnior (menos de 23 anos, 11 meses e 30 dias) e nunca levantei mais de 170kg na época. Bem diferente do que podemos ver em campeonatos de supino atuais. Mas voltando ao medicamento, posso afirmar que para esse eu possuía os receptores, segundo meu guru ... e em abundância ! De meia a uma hora depois de ingerir os comprimidos, começava a ter uma leve tremedeira, respiração ficava mais ofegante, sudorese e eu me sentia o cara mais forte da competição. Passado o efeito, voltava dormindo na kombi branca 89 do professor, geralmente com uma medalhinha no pescoço ou troféu caído no banco de trás.

EPO (eritropoietina)
É um hormônio secretado pelo rim que estimula a medula óssea a elevar a produção de células vermelhas do sangue. O oxigênio é transportado no sangue ligado à hemoglobina. Portanto, uma elevação de EPO ocasiona o aumento na capacidade de transporte de oxigênio pelo sangue. Mais oxigênio no sangue significa mais oxigênio nos músculos para a produção de energia aeróbica, o que melhora a performance de ciclistas, corredores de longa distância e outros atletas de resistência. Os atletas de força, logo enxergaram o EPO como um ergogênico de grande valia.

Sabe-se que podemos elevar a capacidade de transporte de oxigênio no sangue de um atleta através de duas maneiras. Uma delas é o doping sangüíneo (prática muito comum nos anos 70 e parte da década de 80), onde o atleta retira e guarda (em condições especiais de temperatura, higiene. Claro que não pode ser feito em casa ou nos fundos de sua academia) uma quantidade do seu próprio sangue, esperando um determinado período de tempo até que o corpo tenha restaurado a quantidade de células vermelhas do sangue, e então injeta o sangue inicialmente retirado. A segunda maneira de aumentar a capacidade de transporte de oxigênio do sangue é injetar a versão sintética de EPO. O uso medicinal desse hormônio é tratar pacientes com mau funcionamento dos rins, câncer e AIDS.

É um doping de alto risco, pois eleva a densidade do sangue, aumentando-se o risco de coagulação sangüínea, que pode bloquear os vasos sangüíneos causando infarto ou ataque cardíaco. Também pode causar hipertensão e ocasionar um ataque apoplético (lesão vascular cerebral aguda como hemorragia, embolia, trombose) e falência congestiva do coração, pois o fluxo sanguíneo é interrompido, levando, então à morte do cidadão. Isso tudo pode ser medido através do nível de hematócrito no sangue, que é a porção do sangue composta de células vermelhas. Os níveis normais de hematócrito são de aproximadamente 40-50% em homens, e 37-47% em mulheres. À medida que o atleta vai ficando desidratado durante o treinamento ou competição, e não vai repondo o líquido perdido, o volume sanguíneo é reduzido, ocasionando elevação do hematócrito e a resistência do sangue para fluir de forma adequada, devido ao aumento da densidade sanguínea.

Não há um valor pré-determinado nos níveis de hemotócrito em que podemos afirmar que o doping torna-se mais perigoso (pois é perigoso de qualquer forma), mas o risco aumenta de maneira extremamente agressiva quando está acima de 55%. Os riscos aumentam com a utilização, geometricamente ao aumento do número de usuários.
No mundo underground da musculação, em um ciclo bastante comum, utiliza-se a EPO, dia sim, dia não, geralmente algo em torno de 3000UI de cada vez. Geralmente, os atletas de força começam a utilizar a droga cerca de 5 semanas antes de uma competição. A meia-vida do medicamento (intervalo de tempo em que sua concentração plasmática se reduz à metade) é de cerca de 4 horas e é um medicamento relativamente caro.



Adrenalina
A adrenalina é um hormônio liberado pelas glândulas supra-renais, que se localizam sobre os rins. A presença desse hormônio no organismo acontece através de um sinal liberado em resposta ao grande stress físico ou mental ou em situações de forte emoção. A adrenalina é liberada quando tomamos um susto, em montanhas-russas, quando estamos perto daquela gata que achamos o máximo ou antes de entrar em um campeonato de WSM. Em alguns freqüentadores de academia, a adrenalina aumenta quando estão em carrinhos de batida no shopping, quando têm que escolher a cor da camisa que irão treinar ou quando um marombeiro mais antigo passa por eles com anilhas de 20kg pra carregar o leg press de peso.

O hormônio atua como um neurotransmissor que tem efeito sobre o sistema nervoso simpático, preparando o organismo para um grande esforço físico. Todos já devem ter ouvido o caso em que uma dona-de-casa levantou um portão pesadíssimo quando soube que um de seus filhos estava embaixo do mesmo ou casos em que o esforço sobre-humano feito em alguma ocasião não tem explicação. Bom, tem sim : é a adrenalina que deu essa força extra, digna de uma história em quadrinhos de qualquer super-herói. Os sintomas característicos da liberação de adrenalina são: vasoconstrição (processo de contração dos vasos sanguíneos, em consequência da contração do músculo liso presente na parede desses mesmos vasos. É o processo oposto à vasodilatação), aumento dos batimentos cardíacos, sudorese, dilatação das pupilas e brônquios (aumentando a visão e deixando a respiração ofegante), aumento do nível de açúcar no sangue, entre outros.

O aumento dos batimentos cardíacos faz com que o sangue seja bombeado mais rapidamente, esse efeito só ocorre por que os vasos se contraem ficando mais finos (vasoconstrição), acelerando a circulação sanguínea. O problema é que, se alguma artéria que leva sangue ao coração estiver parcialmente obstruída, o estreitamento agravará o quadro: o sangue não circula e então ocorre a morte de um conjunto de células por falta de oxigênio, mais conhecido como infarto. Atletas de STRONGMAN utilizam a adrenalina momentos antes de começarem uma prova na competição onde já estão cansados, estressados e precisam de um up urgente. Extremamente perigosa, a adrenalina é utilizada com certa cautela e as dosagens são ajustadas meticulosamente às individualidades dos atletas.

Ainda temos uma longa caminhada pela frente : salbutamol, testosterona suspensão, oximetolona e uma infinidade de ergogênicos para serem discutidos. Mas vamos parando por aqui pra que todos possam assimilar as informações de forma produtiva, devagar e sem cansaço visual ou mental. Tivemos acima uma pequena noção do que é usado e podemos perceber que a busca pela vitória vai ganhando proporções monstruosas. O medo ou receio de alguma droga some quando a palavra de ordem é ganhar, ser o melhor, ser o mais forte. E não é só pela questão do dinheiro dado ao campeão, que, diga-se de passagem, é uma quantia excelente para os padrões dentro de competições de força. O atleta que participa dessas competições geralmente vive disso e se orgulha de dizer que essa é sua profissão. Mas esse não é a principal motivação de quase 100% dos competidores : o atleta quer ser o melhor também pelo ego, pela satisfação pessoal e, na maioria das vezes, o caminho para a vitória acaba esbarrando em drogas perigosíssimas, viciantes e letais.
No próximo artigo, a segunda parte dos ergogênicos, um ciclo típico de um atleta de força e algumas revelações sobre algumas drogas utilizadas por um querido participante do WSM. 

Stay Strong !

Betão Marcatto

Comentários

Postagens mais visitadas